Doutoramento em Estudos da Criança, especialidade de Educação Musical

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Realizaram-se no dia 20 de julho, às 14h30, as Provas de Doutoramento em Estudos da Criança, especialidade de Educação Musical, requeridas pela Mestre Maria Cristina Pais Aguiar, tendo como orientadora a investigadora do CIEC Maria Helena Gonçalves Leal Vieira. O júri foi presidido pelo Doutor José Augusto de Brito Pacheco, tendo estado presentes os seguintes vogais: o Doutor António Vassalo Neves Lourenço, da Universidade de Aveiro; a Doutora Maria Helena Gonçalves Leal Vieira, da Universidade do Minho; o Doutor António José Pacheco Ribeiro, da Universidade do Minho; o Doutor Ricardo Iván Barceló Abeijón, da Universidade do Minho; o Doutor António Gabriel Castro Correia Salgado, do Instituto Politécnico do Porto. No final, a candidata foi aprovada por unanimidade, com a menção de Muito Bom.

Título da Tese: “O Ensino de Canto nos ramos genérico e vocacional no 1º Ciclo do Ensino Básico: Um estudo de caso múltiplo”

Resumo: Em Portugal o Ensino Básico de música está ramificado logo a partir do 1º Ciclo nas vertentes genérica (nas escolas de ensino dito “regular”) e especializada (nas escolas de ensino “especializado”). Estas vertentes não se encontram organizadas segundo um modelo lógico, coeso ou suficientemente articulado. São também escassas na literatura as referências às práticas pedagógicas concretas do ensino da música em contexto de sala de aula, particularmente no que se refere ao objeto deste estudo: o ensino de canto na educação infantil. Numa cuidada revisão de literatura sobre esta temática sobressaíram algumas questões fulcrais para a investigação deste problema curricular: de que forma se ensina as crianças a cantar? Será que se ensina a cantar ou simplesmente se ensinam canções? Haverá diferentes abordagens ao ensino de canto numa escola genérica (na área de Expressão e Educação Musical, e na área de Ensino de Música do âmbito das AEC) ou numa escola especializada (na disciplina de Iniciação Musical)? E que diferença fará no ensino de canto no 1º Ciclo o professor ser especializado ou generalista? Qual o peso da formação vocal na formação destes professores e qual o impacto dessa formação nas suas práticas pedagógicas? Com base nestas interrogações, e selecionando o ensino de canto nos ramos genérico e vocacional do 1º ciclo do Ensino Básico como foco do estudo, definiram-se quatro objetivos que nortearam toda a investigação: averiguar de que modo é realizado o ensino de canto; analisar os programas e refletir acerca da sua implementação prática descrevendo as metodologias utilizadas; fazer o levantamento das práticas pedagógicas ao nível da educação vocal e do repertório trabalhado; e enunciar conclusões fundamentadas no processo de investigação quanto a possíveis melhorias a realizar ao nível do ensino de canto e da educação vocal infantil. Efetuou-se um estudo de caso múltiplo alicerçado no modelo de análise qualitativa e considerando três casos: o ensino genérico com o professor generalista (EG Pg); o ensino genérico com professor especializado em música (EG Pe); e o ensino especializado da música (EE Pe). A recolha dos dados foi realizada nos dois ramos de ensino (genérico e especializado) através de entrevistas a professores, alunos e diretores de escolas do 1º ciclo do Ensino Básico e através de observação direta de aulas e de apresentações públicas de alunos, também do 1º ciclo do Ensino Básico (observação não participante e distanciada, respetivamente). Foram utilizadas técnicas de análise documental (designadamente de programas, orientações curriculares e legislação), técnicas de seleção e codificação da informação recolhida por entrevista, e técnicas de análise de conteúdo, categorização e interpretação.

121Os resultados confirmaram estudos de outros autores que indicam que a ramificação do ensino da música não faz sentido no início da Educação Básica, também no que concerne ao ensino de canto. Nos casos estudados – Expressão e Educação Musical (EG Pg), Ensino de Música (AEC EG) e Iniciação Musical (EE) – o canto coletivo é prática generalizada nas aulas; todavia, o ensino de canto é pobre, ou quase inexistente, devido à falta de formação dos professores acerca da fisiologia e da técnica vocal. No ensino especializado vão surgindo iniciativas, mas pontuais e fortuitas. Não obstante a voz ser mencionada nos programas estudados como um recurso a desenvolver, o trabalho vocal proposto reduz-se a cantar canções e não a desenvolver competências mais específicas de educação vocal. A investigação demonstrou ser imprescindível repensar a educação em termos holísticos, pedagógicos e não economicistas, sugerindo a implementação do regime de ensino articulado, logo ao nível do 1º ciclo, em modelo gratuito e acessível a todos, de modo a rentabilizar recursos humanos e materiais e promover a equidade de acesso à formação. O estudo revelou ainda que o ensino de música deveria ser sempre da responsabilidade de docentes especializados, ser de oferta obrigatória e incluir o ensino de canto; não obstante, os intervenientes no estudo reclamam, para já, a aplicação do regime de coadjuvação entre professor generalista e professor especializado, previsto na Lei, mas frequentemente não implementado. Finalmente é conclusão deste estudo que a melhoria do processo pedagógico de ensino da música, e concretamente da educação vocal para todas as crianças portuguesas só poderá ser alcançada mediante decisão política e governamental.

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